No dia 18 de setembro (18-09-2024) foi concluído, no SINDIMETAL-PR, o Curso Avançado de Negociação Trabalhista ministrado pelo juiz do Trabalho do TRT/PR, Dr. Fernando Hoffmann, que teve como objetivo fornecer aos participantes novas abordagens e estratégias voltadas para a melhoria das negociações trabalhistas.
Durante as aulas, Hoffmann apresentou conceitos essenciais sobre negociação trabalhista, abordando a preparação necessária, os estilos de negociador e técnicas de negociação. Também foram discutidos casos práticos que ilustram como sindicatos e empresas podem aprimorar suas habilidades de negociação.
Ao final do curso, 19 profissionais das empresas associadas e filiadas ao SINDIMETAL-PR receberam seus certificados.
Em entrevista ao SINDIMETAL/PR, o juiz Fernando Hoffmann comentou sobre os conteúdos abordados, a avaliação dos participantes e as melhores práticas para uma negociação trabalhista eficaz.
Confira a seguir a íntegra da entrevista.
1-Qual a sua análise geral sobre o curso? Como foi o engajamento e a interação dos representantes das empresas? Quais temas mais impactaram os participantes do curso? Houve uma troca interessante de experiências?
HOFFMANN – A análise do curso é bastante positiva. Os participantes mostraram um alto nível de engajamento e interação durante as aulas. Houve uma troca rica de experiências, especialmente nos momentos de ilustração de uma técnica, simulação de negociações e abordagens a casos reais. E os temas que mais impactaram os participantes foram os tipos e as técnicas de negociação colaborativa e competitiva e o conceito de BATNA (Melhor Alternativa a um Acordo Negociado).
2- Quais são as técnicas mais eficazes em uma negociação trabalhista?
HOFFMANN – As técnicas mais eficazes incluem a preparação cuidadosa e estruturada para a negociação trabalhista, a qual envolve o estudo profundo dos interesses e das alternativas, inclusive da contraparte. Também destaco a importância de fazer a primeira proposta ancorada, que estabelece os parâmetros de valor da negociação. Além disso, uma comunicação assertiva e empática é fundamental para alinhar expectativas e buscar soluções mutuamente benéficas.
3- Como garantir um resultado positivo para ambas as partes?
HOFFMANN – Garantir um resultado positivo para ambas as partes exige foco na negociação colaborativa, não só na competitiva. Isso significa ir além das posições iniciais e investigar e explorar os interesses principais e subjacentes de cada lado. A criação de soluções ganha-ganha, onde ambas as partes sentem que seus interesses foram atendidos, pode ser a chave para superar o impasse e alcançar uma solução que atenda os dois ou mais lados envolvidos numa negociação trabalhista, seja ela individual ou coletiva, seja dentro ou fora da Justiça do Trabalho. Usar padrões objetivos de legitimidade para embasar as propostas também ajuda a construir confiança e aceitação.
4- Quais são os principais desafios enfrentados pelos negociadores nas negociações trabalhistas?
HOFFMANN – Os principais desafios incluem lidar com a rigidez e a longa distância entre as propostas iniciais e a falta de confiança entre as partes. Muitos negociadores trabalhistas – aí considerados advogados, dirigentes sindicais, líderes e gestores, dentre outros – enfrentam dificuldade em gerir expectativas, especialmente quando há interesses divergentes e emoções em jogo. Outro desafio é a capacidade de manter a negociação no campo colaborativo e evitar que ela se torne puramente competitiva, o que pode gerar impasses e desgastes.
5- Qual o papel dos sindicatos nas negociações trabalhistas?
HOFFMANN – Os sindicatos desempenham um papel essencial nas negociações trabalhistas, principalmente nas negociações coletivas. Eles representam os interesses dos trabalhadores e das empresas e ajudam a prevenir conflitos futuros e equilibrar o poder de barganha nas relações individuais de trabalho. Uma negociação coletiva pode ser altamente benéfica ao estabelecer cláusulas claras, condições objetivas e termos objetivos para o cumprimento de direitos e o respeito a deveres nas relações de trabalho. No entanto, se não for bem gerida, a negociação coletiva pode criar tensões e favorecer o surgimento de conflitos, especialmente se as demandas forem excessivas ou se houver falta de comunicação efetiva entre as partes.
6- Como um negociador deve lidar com impasses durante uma negociação trabalhista ou uma mediação?
HOFFMANN – Uma negociação resulta em impasse ou em acordo. Quando há impasse, o negociador trabalhista deve exercer a autopercepção, a inteligência emocional e trabalhar a comunicação e a negociação para buscar opções criativas que possam gerar valor para todos os envolvidos no conflito individual ou coletivo. Em casos extremos, recorrer a mediadores da iniciativa privada ou à própria mediação pré-processual da Justiça do Trabalho pode ajudar a desbloquear a negociação.
7- Qual a maior habilidade é exigida/esperada de um negociador?
HOFFMANN – Na minha opinião, a maior habilidade de um negociador é a capacidade de escuta ativa ou apreciativa, segundo alguns autores. Muito além das próprias perspectivas e posições, buscar entender verdadeiramente os interesses e necessidades da outra parte é o ponto central para encontrar soluções eficazes em todo e qualquer tipo de negociação. E com muito mais força nas trabalhistas, onde temos um contrato de trabalho que se prolongou no tempo. Ou uma negociação coletiva que será retomada periodicamente.
8- Uma negociação bem feita é sempre assertiva e vantajosa para somente uma das partes ou a melhor negociação é aquela que ambos saem ganhando?
HOFFMANN – A melhor negociação é aquela em que ambos os lados saem ganhando. A assertividade deve ser equilibrada com a comunicação empática e voltada à busca de soluções que sejam minimamente razoáveis a ambas as partes. A visão de que uma parte deve “vencer” ou “derrotar” a outra é ultrapassada e pouco produtiva no longo prazo. A criação de valor compartilhado é a marca de uma negociação verdadeiramente bem-sucedida.
9- Qual conselho o Dr. daria para os participantes que querem se tornar grandes negociadores?
HOFFMANN – Meu conselho é: sempre estejam preparados. Isso envolve estudar o caso, conhecer a contraparte e ter um plano claro para lidar com aquele conflito trabalhista. Praticar a escuta ativa, analisar custos, riscos e oportunidades, gerar opções, dominar os estilos competitivo e colaborativo e investigar as próprias premissas e os vieses limitantes são habilidades fundamentais identificadas no bom negociador trabalhista. Por fim, esteja sempre aberto ao aprendizado. Os melhores negociadores do mundo estão sempre aprendendo, seja nos diversos cursos, seja em cada negociação.
10- Quais as suas considerações finais sobre o Curso Avançado sobre Negociação Trabalhista de 20 horas realizado no SINDIMETAL-PR?
HOFFMANN – Foi uma experiência incrível ter compartilhado conhecimentos e práticas negociais com um grupo tão engajado e comprometido. Ao longo do curso promovido pelo SINDIMETAL/PR em parceria com a UniSENAI, abordamos desde os princípios fundamentais da negociação até técnicas avançadas, como a negociação colaborativa e o uso eficaz do BATNA. Os participantes tiveram a oportunidade de trocar experiências, participar de simulações e aprender estratégias aplicáveis às negociações trabalhistas das mais variadas naturezas.
Parabéns a todos pela dedicação!