Imaginem uma empresa que transforma os dados de todo o processo produtivo em informação. E que, a partir do acesso a essa informação, líder, liderados e diretoria tragam ideias inovadoras com um único propósito: solucionar possíveis problemas na produção.
Suponham, ainda, que todo o conhecimento da sua equipe, aliado às inovações tecnológicas, potencializem o processo de uma linha de produção da empresa, tornando a indústria mais produtiva, mais competitiva e oportunizando ao seu cliente um melhor serviço e produto. Esta inovação tecnológica já existe e tem um nome: Indústria 4.0.
Enquanto os mercados internacionais como Alemanha, por exemplo, foram os precursores desse novo processo de manufatura inteligente, a Indústria 4.0 no Brasil ainda está dando os primeiros passos. E, para que esse processo seja eficiente nas organizações nacionais, o desafio dos profissionais de RH será grande. Eles terão que requalificar seus profissionais e conscientizar empresários e colaboradores sobre a nova cultura tecnológica que chega ao Brasil.
A reunião do mês de maio do Grupo de RH do SINDIMETAL/PR tratou justamente deste tema: “Filosofia da Indústria 4.0”. O evento aconteceu na quarta-feira (17/05/2017), e dele participaram professores universitários e representantes das empresas associadas ao sindicato.
Para tratar do assunto o SINDIMETAL /PR convidou o Prof. Dr. Maximiliano Vargas, Ph.D. in Computer Science by the Colorado Technical University (CTU-EUA) in a Concentration in Enterprise Information Systems, que apresentou informações sobre o conceito de Indústria 4.0, o impacto nas instituições de ensino e na realidade das empresas, e sobre como será a relação da Indústria 4.0 com Recursos Humanos.
Durante a sua apresentação, Maximiliano fez uma breve análise do cenário atual no Brasil e apontou a grande barreira que dificulta a adoção de tecnologias digitais avançadas no país.
“Não adianta se preocupar com questões relacionadas a equipamentos e ferramentas para desenvolver a Indústria 4.0 na empresa. Isso é apenas uma parte do processo. Nesse momento, o mais importante a ser desenvolvido é a internacionalização do conhecimento, ou seja, entender o conceito, o que o processo traz, qual será o novo perfil dos profissionais. Não apenas saber se a indústria tem capacidade técnica, mas, sobretudo, se a empresa tem capacidade de pessoas, a partir de agora”, declara.
Segundo Maximiliano, a grande mudança do novo perfil dos profissionais de fábrica passa pelos seguintes aspectos:
- Conhecimento tecnológico e de novas tendências;
- Promoção de aprendizado contínuo aos profissionais;
- Manutenção de um bom relacionamento interpessoal (foco nas pessoas);
- Visão global – consolidar dentro da indústria a interatividade possibilitada pelo uso da internet;
- Automotivação e equilíbrio emocional: entusiasmo pessoal e engajamento fazem parte do novo perfil do profissional da indústria;
- Inovação: ter capacidade de inovar.
Mesa Redonda aborda formação do novo profissional e transformação cultural nas organizações
Após a palestra, foi realizada uma mesa redonda com o objetivo de debater sobre os aspectos de implantação da Indústria 4.0. Compuseram a mesa o diretor de ensino do Grupo IDD, Prof. José Motta Filho, o coordenador do Centro de Ciências Exatas, Tecnológicas e Agrárias da Unicesumar Curitiba, Anselmo Luiz da Rocha, os consultores internos de RH da empresa Bosch Curitiba, Bruna Brun e Douglas Messias. O debate foi conduzido pelo palestrante e prof. Maxiliano Vargas.
Na ocasião, os professores foram questionados sobre a formação universitária e o novo perfil dos profissionais recém-formados. Para Anselmo, o principal papel das universidades, atualmente, é apresentar as novas tecnologias de mercado para os alunos, deixando-os competitivos para o mercado.
“ Hoje, as universidades estão formando profissionais com um maior grau de conhecimento tecnológico. Porém, a evolução está muito rápida. Quando visualizamos a indústria 4.0 estamos pensando em disciplinar esse aluno que sai das universidades e como engajá-lo para que auxilie no aprimoramento dessa nova tecnologia nas organizações”. diz Anselmo.
Já o diretor do grupo de ensino IDD, Prof. Motta, acredita que é preciso modificar o modo de conduzir as aulas na universidade. “Temos tecnologias fantásticas. Hoje o mundo é mobile e precisamos ensinar esses alunos a usarem essa tecnologia ao seu favor. E a indústria 4.0 chega repaginando tudo, transformando dados em informação e em conhecimento para uma tomada de decisão. Portanto, é preciso desenvolver nos alunos a habilidade e a capacidade de pensar. Dar conhecimento para que eles solucionem problemas complexos”, declara.
Se as universidades já estão mudando o conceito de suas aulas, as empresas também necessitam se adequar às transformações buscando integrar-se a este processo. No entanto, de acordo com a consultora da empresa Bosch, Bruna Brun, as empresas nacionais terão um desafio enorme pela frente, diante destas novas tendências do mercado.
“A empresa Bosch tem consciência da mudança que precisa acontecer na organização. Mas, ainda encontramos profissionais que têm receio desta nova tecnologia, ora por acreditarem que a implantação da Industria 4.0 implicará em demissões, ora por medo de não conseguirem aprender todo esse processo tecnológico. E há outros colaboradores que precisam ver um sentido nesses avanços tecnológicos para que possam comprar a ideia e contribuir efetivamente para a organização. Hoje, a empresa passa por um momento de transformação cultural para que a Indústria 4.0 aconteça dentro da organização”, diz Bruna.
Para Douglas Messias, também consultor da Bosch, embora a indústria 4.0 seja um processo progressivo, a introdução desses métodos no país deve se adequar à realidade da indústria nacional.
“As empresas querem implantar essa nova tecnologia, mas não basta copiarem o modelo desenvolvido na Europa. Isso não funciona para a cultura que temos aqui no Brasil, seja em relação à estrutura de trabalho, seja no que diz respeito ao perfil profissional dos nossos colaboradores. Apesar de hoje termos acesso a muitas informações é preciso, realmente, fazermos uma imersão em todos os conceitos, entender o novo processo para então encontrar a sua identidade e, assim, darmos os primeiros passos nesta questão”, finaliza Douglas.